Simpatizei com Damião do Jegue na primeira vez em que o vi, por um motivo pra lá de especial: sabia ele todo o repertório de forrós, sambas, marchinhas e frevos compostos ou interpretados por Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. Sendo eu um jacksoniano juramentado, ouvi-o por mais de hora. Cantou muitas músicas que eu não conhecia e me ensinou a letra completa de várias outras. Em 1980, Damião resolveu doar o Jericar ao Papa João Paulo II, quando de sua visita ao Brasil. Criou-se, aí, um problema diplomático, e o Itamaraty não sabia como proceder para entregar o presente ao Santo Padre em Roma. A CNBB ficou de estudar o assunto. Em 1982, depois de tanta espera, Damião iniciou uma série de atos de protesto. Subiu a rampa do Palácio do Planalto com o Jericar, acorrentou-se à Torre de TV, escalou o mastro da Bandeira Nacional e ameaçou suicidar-se, fez greve de fome, tudo isso sob o pretexto de conseguir mais atenção para o sofrido povo nordestino. Mais tarde, chegou a se candidatar a um cargo eletivo, obtendo votação inexpressiva. Era um agitador cultural, um cara criativo, um sonhador. Pena que tenhamos sido prematuramente privados de seu convívio!"
Damião do Jegue acabou sendo citado numa música gravada pelo Rei do Baião, "O Papa e o Jegue", com versos do ilustre poeta pernambucano Otacílio Batista, musicados por Luiz Gonzaga. A música foi gravada em 1983 e faz uma crítica social de lascar o cano. Sem contar que, ao final, o poeta registrou que com a abertura do então presidente da República, o general Figueiredo, o lugar de jumento era mesmo no Brasil. Durma com um barulho desse! É uma crítica bem humorada que conta com um refrão ("Quer queira ou quer não/ O jumento é nosso irmão") em homenagem ao padre Antonio Vieira que compôs em parceria com Luiz Gonzaga a famosa "Apologia ao Jumento".
Não sei explicar o motivo pelo qual "O Papa e o Jegue" não fez tanto sucesso quanto deveria. Lembro que as emissoras de rádio já não divulgavam tanto o produto caracteristicamente cultural. Essa doença vem desde a década de oitenta na qual a música foi lançada.
O Papa e o Jegue (Otacílio Batista e Luiz Gonzaga)
O jumento é o símbolo da pobreza
Animal que figura no Evangelho
Comedor de molambo e papel velho
Não tem medo de fome em sua mesa
Ao seu dono ele dá pouca despesa
No verão, no inverno ou no sol quente
Pensador, preguiçoso e paciente
Foi amigo do filho de Jeová
Hoje serve de carne de jabá
Nas cozinhas mais ricas do Oriente
Quer queira ou quer não
O jumento é nosso irmão (bis)
Traz o jegue no lombo a cruz da morte
O sinal do menino de Belém
Jesus quis visitar Jerusalém
O jumento serviu-lhe de transporte
No Brasil o jumento teve a sorte
De ser presente do Papa um santo nome
Vai comer do que pouca gente come
Nos quintais do palácio italiano Engordar nos jardins do Vaticano
Seus irmãos no Brasil passando fome
César Coelho apitou a decisão
Da Itália jogando com a Alemanha
Havelange lamenta na Espanha
A derrota da nossa seleção
Os romanos levaram o canecão
Paulo Rossi é da copa o artilheiro
Nós perdemos por causa do goleiro
Mas em nome da língua de Camões
O jumento transmite aos campeões
Um abraço do povo brasileiro
Assessores do Papa, cardeais
Baseados no Velho Testamento
Cancelaram a viagem do jumento
A noticia que o jegue não vai mais
Damião deixa o seu burrico em paz
Já que o Papa recusa o jeriquil
Pra ninguém não chamá-lo de imbecil
É melhor desistir desse presente
Com a abertura do nosso presidente
O lugar do jumento é no Brasil.
Comedor de molambo e papel velho
Não tem medo de fome em sua mesa
Ao seu dono ele dá pouca despesa
No verão, no inverno ou no sol quente
Pensador, preguiçoso e paciente
Foi amigo do filho de Jeová
Hoje serve de carne de jabá
Nas cozinhas mais ricas do Oriente
Quer queira ou quer não
O jumento é nosso irmão (bis)
Traz o jegue no lombo a cruz da morte
O sinal do menino de Belém
Jesus quis visitar Jerusalém
O jumento serviu-lhe de transporte
No Brasil o jumento teve a sorte
De ser presente do Papa um santo nome
Vai comer do que pouca gente come
Nos quintais do palácio italiano Engordar nos jardins do Vaticano
Seus irmãos no Brasil passando fome
César Coelho apitou a decisão
Da Itália jogando com a Alemanha
Havelange lamenta na Espanha
A derrota da nossa seleção
Os romanos levaram o canecão
Paulo Rossi é da copa o artilheiro
Nós perdemos por causa do goleiro
Mas em nome da língua de Camões
O jumento transmite aos campeões
Um abraço do povo brasileiro
Assessores do Papa, cardeais
Baseados no Velho Testamento
Cancelaram a viagem do jumento
A noticia que o jegue não vai mais
Damião deixa o seu burrico em paz
Já que o Papa recusa o jeriquil
Pra ninguém não chamá-lo de imbecil
É melhor desistir desse presente
Com a abertura do nosso presidente
O lugar do jumento é no Brasil.
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