Eleita pelo segundo turno neste domingo, dia 31, Dilma Rousseff, é a primeira mulher a ocupar a presidência do País. Esta é a primeira disputa da petista pelo cargo, cuja promessa é dar continuidade ao trabalho realizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de ocupar o comando do Poder Executivo Federal, Dilma foi secretária estadual de Minas e Energia no Rio Grande do Sul, ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil, dentre outras atribuições.

Filha de imigrante búlgaro com uma brasileira, Dilma nasceu em Belo Horizonte em 14 de dezembro de 1947. Estudou em um tradicional colégio para meninas e frequentou o Minas Tênis Clube, ponto de encontro da elite belorizontina. Os estudos do ensino médio são concluídos no colégio Estadual Central. Em seguida, Dilma ingressa na faculdade de economia, na Universidade Federal de Minas Gerais, às vésperas do golpe militar de 1964.

O período mais difícil considerado por Dilma foi a instituição do AI-5, ato institucional baixado pelos militares, que mergulhou o Brasil em um momento de forte repressão política. Aos 16 anos, inicia a participação na militância política a fim de lutar contra o regime militar. Para isso, participou de organizações clandestinas, como a Política Operária (Polop), Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).

Nesse período, Dilma presencia os amigos sendo presos, exilados e assassinados pela repressão. Em 1970, é presa e torturada nos porões da Operação Bandeirante (Oban) e do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. Como jamais participou de qualquer ação armada, a Justiça Militar a condena apenas por “subversão”, com pena de dois anos e um mês de prisão. Apesar do período decretado, Dilma permaneceu quase três anos no presídio Tiradentes, na capital Paulista.

Em 1975, começa a trabalhar como estagiária na Fundação de Economia e Estatística (FEE), órgão do governo gaúcho e se engaja na campanha pela Anistia junto com o segundo marido, o advogado e militante gaúcho Carlos Araújo. Ambos participam da fundação do PDT no Rio Grande do Sul.

Em 1986, o pedetista Alceu Collares, novo prefeito de Porto Alegre, escolhe Dilma para a Secretaria da Fazenda. Nesse período, começa sua trajetória administrativa reconhecida pelas três principais características: determinação, competência e sensibilidade social.

No início dos anos 1990, torna-se presidente da Fundação de Economia e Estatística, a mesma FEE onde havia iniciado a vida profissional como estagiária. Em 1993, com a eleição de Alceu Collares para o governo do Rio Grande do Sul, assume a Secretaria Estadual de Minas, Energia e Comunicação.

Em 1994, após 25 anos de relacionamento, separa-se de Carlos Araújo. Em 1998, inicia o curso de doutorado em ciências sociais na Unicamp, mas não chega a defender a tese. Aliados, PDT e PT elegem o petista Olívio Dutra ao governo. Dilma, mais uma vez, ocupa a Secretaria de Minas, Energia e Comunicação. Dois anos depois, com o rompimento da aliança, filia-se ao PT.

Após conhecer o trabalho de Dilma na Secretaria, Lula a convida primeiro para participar da equipe do governo de transição e, em seguida, decide que ela será a nova ministra de Minas e Energia. “Pois bastou uma única conversa para eu ver que, além de enorme competência técnica, Dilma tinha também uma extraordinária sensibilidade social”, lembra Lula.

Com a tarefa de afastar o risco de outro racionamento, Dilma preside o Conselho de Administração da Petrobrás, introduz o biodiesel na matriz energética brasileira e cria o programa Luz para Todos.

Em 2005, ocupa o cargo de chefe da Casa Civil e passa a assumir a coordenação de programas estratégicos como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida. Coordena, ainda, a Comissão Interministerial encarregada de definir as regras para a exploração do Pré-Sal e integra a Junta Orçamentária do governo, além de participar de outros projetos como a definição do modelo de TV digital e a implantação de internet banda larga nas escolas públicas.

Em abril de 2009, Dilma enfrenta um tratamento a fim de curar-se de câncer linfático. Em setembro do mesmo ano, os médicos anunciam que ela estava livre de qualquer evidência de linfoma.

Em março de 2010, lança junto com Lula o PAC 2, que amplia as metas da primeira versão do programa e incorpora ações inéditas, sendo a maioria delas destinada ao combate dos principais problemas das grandes e médias cidades.

Candidata promete continuar com programas do governo do presidente Lula

Eleita no segundo turno, Dilma Rousseff anuncia que vai dar seguimento aos projetos sociais que foram o carro-chefe da campanha da petista. Para Antônio Carlos Peixoto, professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o mandato da presidente eleita será marcado por poucas mudanças. “Ela veio com a bandeira do continuísmo. Trata-se agora de retificar ou acentuar um ou outro ponto, mas os projetos principais são as políticas sociais”, afirma.

Nas campanhas eleitorais, Dilma afirmou que irá acabar com a pobreza no Brasil. Por esta razão, o professor acredita que as políticas sociais vão continuar sendo as prioridades. Com o crescimento da economia, Peixoto afirma não haver muitas mudanças neste sentido. “Como o Lula está com 80% de popularidade, tanto por ele como personalidade quanto pelas políticas criadas por ele, é pouco provável que ela vá anunciar grandes mudanças. No governo da Dilma, o que podemos esperar é realmente uma continuidade”, diz.

Com relação às primeiras dificuldades da nova presidente, o professor acredita que estejam relacionadas à composição de uma maioria no Congresso. “O PT tem um bloco de apoio que é mais ou menos sólido, mas isso não garante maioria nem na Câmara nem no Senado. A peça-chave dessa composição é o PMDB, tanto que o PT sabiamente escolheu Michel Temer como candidato a vice na chapa da Dilma”, relata.

Apesar da bandeira do continuísmo, o professor afirma que algumas reformas serão necessárias, entretanto, não há a convicção de que a nova presidente conseguirá garantir a aprovação na Câmara e no Senado. “As reformas Tributária e Trabalhista são necessárias. Mas é preciso definir qual o tipo de cada uma delas. É evidente que pode haver um ou outro ponto que possa ser negociado e eventualmente aprovado. Mas não vejo grandes mudanças estruturais”, declara.

Para o professor de Ciência Política, a questão da pesquisa científica e tecnológica precisa ser melhor equacionada. “O investimento precisa existir, e o Brasil precisa retomar um projeto de industrialização. Além disso, o País precisa resolver o ‘gargalo’ da educação que é extremamente deficiente”, diz.

Nos projetos de políticas sociais como o PAC e o Minha Casa Minha Vida, Peixoto afirma que eles precisam ser aprofundados. “Ainda existe muita miséria, pobreza, analfabetismo e problema em saneamento básico nesse País. Do meu ponto de vista, é preciso definir prioridades”, completa.

Agência Unipress Internacional

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