Sebastião ganha um salário mínimo e meio como ajudante de pedreiro. Ele, como os três filhos, tem baixa escolaridadeUma ilha de miséria em meio à prosperidade. Apesar das obras de infraestrutura e das políticas públicas dos últimos anos, essa continua sendo a situação da Vila Estrutural, que tem péssimos indicadores socioeconômicos, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad) divulgada ontem pela Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan). Cerca de 20 anos após o assentamento das primeiras famílias na área, nascida de uma ocupação irregular, a renda domiciliar per capita dos habitantes não chega a um salário mínimo, ficando em R$ 325. É o menor valor entre as 14 cidades pesquisadas desde o fim do ano passado. Não é por acaso que 28% da população conta com o Bolsa Família, benefício do governo federal, para sobreviver. A educação também deixa a desejar: mais da metade dos moradores, 52,6%, não completou o ensino fundamental, e só 0,5% tem diploma de curso superior.Apesar do retrato negativo, a expectativa é de que as coisas melhorem. Quando foi legalizada e transformada na região administrativa Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA)-Estrutural (englobando a Cidade do Automóvel e as residências da antiga invasão), a área passou a estar apta ao socorro oficial. Foi isso que permitiu o asfaltamento, a iluminação e a chegada do saneamento. Há ainda recursos do Banco Mundial e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) comprometidos com moradia, construção de escolas e outros equipamentos urbanos.Para o economista e sociólogo Marcel Bursztyn, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB), não existem desculpas para não proporcionar condições mais dignas à população da Vila Estrutural. “Durante muito tempo, por força de impeditivos legais, não era possível investir em infraestrutura e serviços. Essa questão se resolveu e começou a haver mudanças, mas há uma defasagem”, analisa. Para Bursztyn, um ponto desfavorável é que há poucas atividades econômicas que propiciem renda e empregos aos moradores.SubempregoO baixo grau de escolaridade obriga a população a recorrer a empregos que não exigem formação e pagam pouco. Sebastião Anvaldo Marques de Araújo, 48 anos, trabalha como ajudante de pedreiro em uma obra próxima à Cidade do Automóvel e ganha um salário mínimo e meio por mês. “Meu negócio mesmo era mexer com fazenda. Era nisso que queria trabalhar quando cheguei de Minas Gerais, há 16 anos. Mas estava desempregado e aceitei o que apareceu”, conta ele, que só cursou a escola até a 5ª série. Sebastião tem três filhos, de 25, 26 e 27 anos, que também não conseguiram terminar a escola. Todos os rapazes têm ensino médio incompleto.

Em meio a tantas dificuldades, muita gente busca se amparar na ajuda divina. O estudo da Codeplan mostrou que a Estrutural tem o maior percentual de evangélicos entre todas as regiões administrativas visitadas, 44,9%. O número fica somente três pontos percentuais abaixo da proporção de católicos, religião que costuma superar as outras em adeptos. A cearense Maria Lúcia da Silva, 58 anos, evangélica pentecostal, resume o sentimento que a leva a procurar a igreja.“Se a gente não tiver Deus, é pior”. Atualmente dividindo um barraco com dois filhos e duas noras, Maria Lúcia conta com apenas R$ 300 originários de faxinas e com o salário de um dos filhos. “O outro não conseguiu emprego ”, diz.Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informação da Codeplan, destaca que a Estrutural precisa ser alvo prioritário do governo local. “É uma cidade em situação de fragilidade econômica e social.” A administradora regional, Maria do Socorro Fagundes, diz que as questões mais graves são a educação e as ocupações em áreas de preservação ambiental. (veja Para saber mais)RadiografiaA Pdad 2010/11 é a segunda pesquisa domiciliar realizada no Distrito Federal. O primeiro levantamento foi feito em 2004. A Codeplan já levantou dados em 14 cidades. A intenção é que, até o fim deste ano, as 30 regiões administrativas do DF tenham sido visitadas pelos pesquisadores.Crianças sem salas de aulaA Vila Estrutural conta somente com duas escolas, ambas centros de ensino fundamental. Juntas, elas recebem diariamente 3,5 mil crianças e não são suficientes para suprir a demanda por educação.De acordo com a administradora, Maria do Socorro Fagundes, todos os dias pelo menos 10 ônibus deixam a região levando estudantes para o Guará e o Cruzeiro. A expectativa é que o problema seja amenizado quando ficar pronto o primeiro centro de educação infantil da Estrutural, cuja inauguração está prevista para outubro deste ano.Atualmente, mais de 2,5 mil crianças com menos de seis anos estão fora da sala de aula. Também há terrenos destinados para a construção de uma segunda pré-escola, de mais um centro de ensino fundamental e da primeira instituição de ensino médio. Mas não há previsão de quando ficarão prontos.Quanto às invasões em áreas de preservação, Maria do Socorro diz que a ideia é acomodar parte das famílias em moradias construídas por meio do Programa Integrado da Vila Estrutural (PIV), que conta com recursos do Banco Mundial.
Fonte correio web

0 comentários:

Postar um comentário

 
Top