O mobiliário a ser substituído foi desenhado por Le Corbusier e será transferido para outras áreas da Câmara (Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
O mobiliário a ser substituído foi desenhado por Le Corbusier e será transferido para outras áreas da Câmara

Passagem obrigatória de chefes de Estado ou de pessoas comuns, o Salão Negro e Nobre da Câmara se prepara para uma repaginada. Nada que altere as estruturas, os traços ou as dimensões do local pensado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. As mudanças serão feitas naquilo que um dia o franco-suíço Le Corbusier — considerado como o pai da arquitetura moderna — denominou como a “máquina de sentar”. Depois de 37 anos de uso, cada poltrona e sofás desenhados por ele e que adornam o espaço serão alterados, conforme prevê licitação aberta pela Câmara no início do mês.

Ao todo, 11 “máquinas” estão distribuídas entre os dois salões. Consideradas obras de arte por alguns, as peças que serão substituídas — a princípio — não terão como destino algum galpão da cidade, mas as áreas de acesso comum da Câmara. A compra de novos móveis também compreende cadeiras, mesas, aparador e suporte de TV para o Salão Nobre, também conhecido com Salão das Recepções. Ali, o ambiente é composto por um vitral de Marianne Peretti, painel do artista plástico Athos Bulcão e móveis de Ana Maria Niemeyer. 

Ao todo, a Câmara pretende gastar cerca de R$ 132 mil com o novo mobiliário. O valor da poltrona escolhida e desenhada por Le Corbusier mais simples é estimado em R$ 3.960. Desse modelo (LC3) deverão ser adquiridas pelo menos oito. A necessidade de troca dos móveis, segundo a assessoria da Casa, deve-se ao tempo e ao uso. Diariamente, passam pelo Salão Negro cerca de 500 visitantes, número que quase dobra nos fins de semana. O local é aberto para visitação todos os dias do ano.

O contexto histórico não se resume apenas às peças de arte distribuídas pelo espaço. O ambiente do Salão Negro — marcado pelo contraste do piso preto com as paredes e teto em mármore branco — é palco de vários fatos históricos como o ocorrido em julho de 2002. Nesse dia, dezenas de integrantes de diferentes nações indígenas sepultaram o corpo do cacique xavante e ex-deputado Juruna. Apesar dos eventos mórbidos, o espaço também é destinado para o comércio. Canetas, marca-textos, agendas e chaveiros são vendidos em um pequeno balcão móvel. Ele fica estrategicamente próximo da parede em que se encontra o trecho do discurso do ex-presidente Juscelino Kubitschek feito ao sancionar a lei que fixou a data da mudança da capital.

Livro de registrosO local também é marcado por eventos comemorativos, como o realizado no último dia 29 de setembro, aniversário de 1 ano da criação da Lei da Ficha Limpa. Apesar da proibição de manifestações populares no local, os visitantes encontraram uma alternativa criativa para deixar o recado. Para isso, é usado o livro de registro que fica em cima das mesas de mármore em cada extremidade do salão. “Aumentem o salário das professoras por favor do estado de MG. Dê um emprego para o meu marido”, reivindica em uma das páginas do livro Márcia Teixeira Lopes Frade. Há também espaço para frustrações. “Infelizmente, não tivemos a oportunidade de assistir às votações, pois não havia parlamentares no nosso horário de visita”, reclama em outra página Afonso Cesar Neto de Caxias do Sul/RS.

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