‘Se tiver que morrer, morro de pé’, diz Mabel sobre disputa na Câmara
Deputado do PR diz ao G1 que é candidato a presidente 'só por ideal'.
Adversário Marco Maia (PT-RS) informou que não concederá entrevista.

Robson Bonin Do G1, em Brasília
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O deputado Sandro Mabel, ao lançar a candidatura à presidência da Câmara, em 25 de janeiroO deputado Sandro Mabel, ao lançar a candidatura
à presidência da Câmara, em 25 de janeiro (Foto:
André Dusek / Agência Estado)

Em duas décadas como deputado federal por Goiás, o empresário Sandro Mabel (PR) enfrenta nos próximos dias um dos momentos mais críticos dos seus cinco mandatos na Câmara.

Decidido a manter a candidatura avulsa à Presidência da Casa, apesar das pressões do partido, que ameaça expulsá-lo caso não retire o nome da disputa, o goiano de 52 anos afirma que o Legislativo “está se desvalorizando” e que seu adversário, o petista Marco Maia (RS), “é a continuidade do que está aí”.

Ao final de um dia inteiro de campanha nesta quinta-feira (27), em que percorreu gabinetes e disparou telefonemas a colegas, Mabel conversou com o G1 sobre a candidatura. Revelou apostar na “insatisfação” dos parlamentares para conquistar votos, e avisou: “Sou do tipo que prefere morrer de pé, a viver ajoelhado. Aqui, estamos ajoelhados. Se tiver que morrer, vou morrer de pé.”

O G1 também pediu uma entrevista ao deputado Marco Maia (PT-RS), adversário de Mabel na disputa pela presidência da Câmara. Mas a assessoria do petista afirmou que ele não concederá entrevista antes da eleição do novo presidente da Câmara.

A seguir, leia os principais pontos da entrevista de Mabel.

G1 - O que levou o senhor a deixar a liderança do partido para apresentar uma candidatura avulsa ao comando da Câmara?
Sandro Mabel - Aqui, tenho uma porção de vantagens em ser líder, em ser da cúpula, e a bancada passa um aperto danado porque a Casa não se movimenta mais, a Casa está de joelhos. Então, ano após ano, a Casa vem se deteriorando, vem se desvalorizando. Acho que é hora de dar uma mudada. No lugar de continuar líder, resolvi ir para a briga, para tentar melhorar, não para mim, mas para ficar bom para toda a Casa, dar condições de trabalho, dar independência e visibilidade para o poder. Esse é o interesse maior que eu tenho. Larguei a liderança, não disputo cargo na mesa, porque já temos o nosso candidato e não espero ter nenhum cargo de ministro porque nós já temos um. É só por ideal mesmo.

G1 - Em que momento o sr. decidiu disputar a presidência?
Mabel - No final do ano, eu vi a aflição da bancada, saindo das eleições, com a promessa de que iriam ser empenhadas as emendas, que são direitos dos deputados, e nada de se empenhar. Algumas, dos líderes, foram empenhadas, de algumas outras figuras do partido, também. Mas as emendas da grande maioria não foram. Então, é muito difícil ser líder de uma bancada que você vai vendo que ela vai ficando sufocada e alguns vão tendo benefício, e a grande parte não vai ter. É o mesmo que andar de Ferrari no Haiti. Você não se sente bem em andar de Ferrari no Haiti. Eu não me sinto bem em ser líder ou privilegiado em algumas coisas e ver a grande maioria dos deputados, que quer trabalhar, sem condição.

G1 - Ao criticar o tratamento das emendas, o senhor não desagrada o Planalto?
Mabel - De forma alguma. O que são as emendas para o governo? Emenda é a coisa mais democrática que você tem. São R$ 6 bilhões que são distribuídos no Brasil inteiro, em milhares de cidades, tudo coisa pequena, R$ 300 mil, R$ 200 mil. Você faz uma ponte, uma escola, um hospital, então isso representa muito pouco para o governo, mas, para o parlamentar, representa muito.

G1 - Como o sr. avalia a pressão do seu partido contra a sua candidatura?
Mabel - Me anima mais ainda ao ver que o Legislativo está desprestigiado. Por que um partido fazer como o meu, que ameaçou me expulsar por eu fazer uma candidatura que é legítima? Eu sou da base. Ganhar o Marco Maia ou ganhar eu, não vai mudar nada para o Planalto. Eu sou tão Dilma quanto ele. Ele não é nem um pouco a mais do que eu sou. Estamos discutindo ideias aqui da Casa, porque o principal não é só a questão das emendas. E você vê essa Casa ter uma pressão em um parlamentar que quer discutir ideias, melhorar as condições da Casa, melhorar o sistema de informática, o sistema de transmissão de televisão para ter mais transparência? Quando o pessoal fala que eu vou construir um outro anexo... O dinheiro [R$ 270 milhões] está parado há quatro anos e isso tem necessidade. Aqui, passam 25 mil pessoas por dia, em média, e você tem que dar condições de trabalho para essas pessoas que trabalham, atendem, preparam projetos. E é preciso modernizar a Casa.

G1 - Independentemente das pressões, o sr. vai até o fim com a sua candidatura?
Mabel - Mais pressão do que já tomei até agora? Pode até ser que apareça mais alguma, mas ser ameaçado pelo partido é uma pressão muito grande e desmoraliza o próprio parlamento, quando em uma eleição do parlamento, vem de fora uma ordem para expulsar o caboclo que está dando trabalho. É difícil.
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G1 - Como é ser comparado com Severino Cavalcanti?
Mabel - O episódio de 2005 tinha uma característica grande de insatisfação. Tão grande que as pessoas estavam votando em qualquer um, como elegem-se muitas pessoas com votos de protesto. Agora, neste episódio, existe um componente que é a amizade que tenho na Casa, o tempo que tenho aqui dentro, o relacionamento e o respeito que tenho pelas pessoas. Nunca mudei quando era deputado normal ou quando era líder. Não muda a minha vida isso daqui. Gosto de todo mundo e procuro ajudar todo mundo. Acho que não pode se comparar [com o caso Severino] apesar de ter o fator da insatisfação.


O que leva o sr. acreditar que vai ser eleito?
Mabel - Tenho amizade aqui dentro, competência de trabalho, plano de trabalho bom, tenho fama de que o que eu prometo eu cumpro, e também a insatisfação que existe na Casa.

G1 - O que o sr. teria para dizer diretamente aos deputados?
Mabel - Deputado, tenha coragem. Essa Casa precisa mudar. O Marco é uma pessoa boa, mas é a continuidade do que está aí. Essa Câmara não cresce. Ao contrário, está se desvalorizando. Então, pensamos que uma mudança é sempre salutar. Eu coloquei as minhas idéias no papel, tenho coragem e disposição. Acredite em mim, vou ser um bom presidente e vou mudar muita coisa nessa casa, vou tornar esse Poder Legislativo novamente um poder. E mais uma coisa: sou do tipo que prefiro morrer de pé a viver ajoelhado. Aqui, estamos ajoelhados. Se tiver que morrer, vou morrer de pé. Não vou fugir, não. Vou até o final e vou ser presidente da Casa com a ajuda de todo mundo.

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